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terça-feira, 7 de novembro de 2017

REFORMA PROTESTANTE


Um pouco de história:
O processo de centralização monárquica que dominava a Europa desde o final da Idade Média, tornou tensa a relação entre reis e Igreja.
Até este momento, a Igreja Católica centralizava o domínio espiritual sobre a população e do poder político-administrativo dos reinos.
A Igreja - possuidora de grandes extensões de terra - recebia tributos feudais controlados em Roma pelo Papa. Com o fortalecimento do Estado Nacional Absolutista, essa prática passou a ser questionada pelos monarcas que desejavam reter estes impostos no reino.
6 de julho de 1415: Jan Huss Foi condenado por heresia e executado em uma fogueira. Algumas de suas ideias mais radicais foram:
Ser membro da Igreja hierárquica não é garantia de ser membro da verdadeira Igreja. Somente aqueles que foram predestinados por Deus antes da fundação do mundo são membros da verdadeira Igreja.
Cristo somente e não o papa é o Cabeça da Igreja.
Oposição as indulgências.
Somente a Bíblia é a regra de fé e prática.
Poggius, um sacerdote da época escreveu: “Ele chegou até a estaca olhando para ela sem medo. Ele subiu nela depois que dois assistentes do carrasco haviam rasgado suas roupas… Naquele momento, um dos eleitores, o príncipe Ludwig do Palatinado, subiu e implorou que Huss voltasse atrás, para que fosse poupado da morte nas chamas. Mas Hus respondeu: ‘Hoje vocês assarão um ganso magro, mas em cem anos ouvirão um cisne cantar. Não serão capazes de assá-lo e nenhuma armadilha ou rede poderá segurá-lo’. O princípe voltou cheio de pena e muita admiração”.

1476- Isabel é coroada rainha da Espanha.
Percebendo a necessidade mudanças no sistema de governo, verificou essa necessidade nas mudanças ou reformas, na igreja. Pois a igreja exercia grande poder religioso e político. Ela defendia a melhor capacitação dos líderes da igreja e dos governantes.
Duas ações iniciadas por ela repercutiu positivamente para o cenário da reforma:
A criação da universidade Alcalá;
O desenvolvimento da Imprensa;
A Bíblia Poliglota Complutense.

1483 - nasce no que hoje conhecemos como Alemanha, Matinho Lutero.
Filho de um mineiro. Home rude e que sonhava ver seu filho advogado.
Durante sua infância, foi tratado com muita severidade por seus pais e até mesmo na escola, onde foi duramente golpeado por não saber suas lições.
Aos 22 anos ingressou no mosteiro agostinho de Erfurt:
Alguns dizem que sua decisão foi para fugir e até contrariar seu pai;
Mas a razão principal foi seu interesse pela salvação. Para ele “... a vida presente não parecia ser mais que uma preparação e prova para a vida vindoura...”
Em sua primeira missa ele chegou a dizer que se tratava de uma experiência surpreendente, pois para ele, estava apresentando nada menos que o próprio Jesus Cristo.
Lutero e seu temor esmagador de Deus:
Mesmo diante de suas tentativas de se manter santo, Lutero percebia que pensamentos, inclinações e desejos lhe deixavam inseguro se o que ele estava fazendo era de fato suficiente para ser salvo.
Mesmo sendo um monge exemplar, que buscava a perfeição, se submetia a castigos e confissões no intuito de buscar a certeza de que estava no caminho da salvação.
Ele tinha uma imagem distorcida de Deus, distorção essa causada talvez e em parte pela maneira com que se relacionou com seu pai. Essa imagem o fazia enxergar Deus apenas como um “justo juiz”, que lhe daria a devida punição por seus erros.
Nessa ânsia por alívio, ele se confessa e é orientado por Jerônimo, seu superior, a dedicar-se ao estudo e ao trabalho pastoral. Assim ele iniciou seu preparo para dirigir cursos sobre as Escrituras na universidade de Wittenberg.
No estudo das escrituras, ele começou a ver a resposta para suas angústias espirituais.
Em 1515, estudando e dando suas conferências sobre a Epístola de Romanos, ele se depara com uma grande questão:
Rm 1.17: “17 Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé.”
O termo “a justiça de Deus”, atormentava Lutero. Porque inicialmente ele entendia como a tradição. Que essa justiça possibilitaria castigo aos homens.
A grande descoberta de Lutero foi compreender que “a justiça de Deus”, é resultado de quem vive pela fé. E que com isso, tanto a fé quanto a justificação são obras de Deus na vida do homem.
Com o desenvolvimento dos estudos de Lutero e suas 95 teses surgem os cinco pilares da reforma protestante que são também conhecidos como os cinco solas da reforma, são princípios fundamentais da reforma protestante sintetizando o credo dos teólogos protestantes.
A palavra sola é uma palavra latina que significa "somente", esses pontos surgem com o propósito de se oporem ao pensamento, conduta e ensino da igreja romana da época.

Soli Deo Gloria (Glória somente a Deus)
A igreja romana ensinava e exigia uma devoção ao clero e aos homens santos que poderiam interferir diante de Deus para perdão de pecados e obtenção de bênçãos para os homens.
Quando se estava na presença do papa e dos cardeais a reverência deveria ser tamanha, beirando as raias de adoração, onde se demonstraria uma total submissão a estes.
Fundamentado nas Escrituras Ef 2. 1-10; Jo 4.24; Sl 90.2; Tg 1.17 e tantos outros textos, os Reformadores concluem que somente a Deus devemos dar glória.
Não podemos dispensar glórias a homens, pois não passam de míseros pecadores e são como trapos imundos e carecem da misericórdia e da gloria de Deus.

Sola Fide (Somente a Fé)
O homem só pode ser salvo mediante a fé (a exclusividade da ação pela fé), sua alma só poderá ser liberta das chamas do inferno e das garras de Satanás mediante a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.
Não são penitências, sacrifícios ou compra de indulgências, que livrarão o homem da condenação eterna, mas a salvação é através da fé (Ef 2.8).
Após meditar no texto que diz: "O justo viverá da fé", Martinho Lutero percebeu que a justiça de Deus nessa passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus, pela fé como dádiva.

Sola Gratia (Somente a Graça)
A única causa eficiente da salvação é a graça de Deus. Ninguém pode ser salvo por mérito próprio, por obras, sacrifícios penitências ou compra de indulgências. A única causa eficaz da salvação é a graça de Deus sobre o pecador, (Ef 2.8). Pela graça somos salvos mediante a fé, e isso não vem do homem é dom de Deus.
Nenhuma obra por mais justa e santa que possa parecer poderá dar ao homem livre acesso a salvação e ao reino dos céus, ocorrerá isso somente pela graça de Deus.
"Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se gloria". Ef 2.8 e 9

Sola Christus (Somente Cristo)
Esse "somente" mostra a suficiência e exclusividade de Cristo no processo de salvação. Desde a eternidade Deus promove a aliança da redenção, onde o beneficiário seria o homem e o executor dessa aliança seria seu Filho unigênito "Jesus Cristo, o Messias prometido", portanto somente Cristo é o instrumento de nossa salvação.
O homem nada poderá fazer para sua salvação, pois Jesus Cristo realizou a obra da redenção ao ser sacrificado na cruz do calvário, vertendo o seu sangue como sacrifício por nossos pecados.
 "E não há salvação em nenhum outro: porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dentre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" At 4.12.

Sola Scriptura (Somente as Escrituras)
Somente as Escrituras são regra de fé e prática para o crente. As tradições as bulas e os escritos papais mão têm, não podem ser ou mesmo servirem de instrumento de fé e prática para o rebanho de Cristo, somente as Escrituras Sagradas. Elas foram escritas por homens inspirados por Deus, são instrumentos de revelação da vontade de Deus para nossa vida. Ao lê-la somos iluminados pelo Espírito Santo para entendê-la.
Martinho Lutero escreve: "Então, achei-me recém-nascido e no paraíso, todas as Escrituras tinham para mim outro aspecto, perscrutava-as para ver tudo quanto ensinam sobre a justiça de Deus"
Podemos ler em 2Tm 3. 16-17: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra".

CONCLUSÃO:
Concluímos através desse breve estudo que os Cinco Solas, serviram de base para a teologia dos reformadores, foram e são de grande importância para a estruturação de uma teologia fundamentada exclusivamente na palavra de Deus, servindo como instrumento de orientação às igrejas, no retorno para os verdadeiros ensinamentos das Escrituras, livrando o homem do senhorio do clero e voltando para o senhorio de Cristo. (SOLI DEO GLORIA)

FONTE:
Boyer, Orlando. Os Heróis da Fé, CPAD, Rio de Janeiro, 2002.
GOLZALES, Justo. A era dos Reformadores, VIDA NOVA, São Paulo, 1983.